Gente, esse foi o nosso banner da apresentação, pena que a qualidade dele num tamanho menor não ficou legal. Mas está aí para vocês deglutirem...
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Entrevista com Darcy Ribeiro
Folha de São Paulo — Como você vê a adequação do movimento antropofágico de 28 no Brasil de hoje, evidentemente muito mudado?
Darcy Ribeiro — A Antropofagia do Oswald de Andrade era a expressão de um momento da literatura mundial e Oswald teve um talento formidável de devorar aquilo e dar uma linguagem para isso. Mas na realidade a antropofagia de Oswald é apenas uma promessa, de um vigor incrível, mas que nunca se completou como ato. Quem completa o ato é Mário de Andrade com Macunaíma, um livro definitivo, feito de erudição, um dos textos mais belos e mais dignos que o Brasil já teve. Foi um movimento de encontro conosco mesmo, contra o endeusamento do gramaticismo, do retoricismo, do helenismo, do francesismo de Bilac, do mundo gramatical de Rui Barbosa. A antropofagia é sempre importante porque expressa, dentro do Brasil, uma assunção do Brasil.
Darcy Ribeiro — A Antropofagia do Oswald de Andrade era a expressão de um momento da literatura mundial e Oswald teve um talento formidável de devorar aquilo e dar uma linguagem para isso. Mas na realidade a antropofagia de Oswald é apenas uma promessa, de um vigor incrível, mas que nunca se completou como ato. Quem completa o ato é Mário de Andrade com Macunaíma, um livro definitivo, feito de erudição, um dos textos mais belos e mais dignos que o Brasil já teve. Foi um movimento de encontro conosco mesmo, contra o endeusamento do gramaticismo, do retoricismo, do helenismo, do francesismo de Bilac, do mundo gramatical de Rui Barbosa. A antropofagia é sempre importante porque expressa, dentro do Brasil, uma assunção do Brasil.
terça-feira, 29 de junho de 2010
Bricolage e Paródia
Bricolage para a Antropofagia é a união de vários elementos para a formação de um único, individualizado.
A paródio é um dos elementos muito utilizados pelo movimento, já que na Antropofagia é considerada o motor da evolução dinâmica. A paródia se torna uma tentativa de rebelião contra a simples cópia dos modismos vindos de fora, ganha maior importância e nosso sentido.
A paródio é um dos elementos muito utilizados pelo movimento, já que na Antropofagia é considerada o motor da evolução dinâmica. A paródia se torna uma tentativa de rebelião contra a simples cópia dos modismos vindos de fora, ganha maior importância e nosso sentido.
Olha como a Antropofagia influenciou o mundo
http://www.youtube.com/watch?v=C_i45ichK7I&feature=related
A importância de um movimento pode ser dimensionado quando é visto a repercussão e estudos dele em outros lugares do seu lugar de origem.
Esse vídeo em espanhol demonstra a sua importância, já que ó movimento está, foi e ainda será muito estudado em outras culturas.
Boa desgustação.
A importância de um movimento pode ser dimensionado quando é visto a repercussão e estudos dele em outros lugares do seu lugar de origem.
Esse vídeo em espanhol demonstra a sua importância, já que ó movimento está, foi e ainda será muito estudado em outras culturas.
Boa desgustação.
O que é Revolução Caraíba?
A utopia antropofágica de Oswald de Andrade tem um núcleo temático: a transformação do patriarcado em matriarcado.
Em Oswald, o patriarcado é representado pela sociedade burguesa e capitalista, centrada no direito de propriedade do dominador, na usura, na hierarquia familiar, nos vícios do homem civilizado, na especulação lógica e metafísica, na repressão dos instintos e da liberdade sexual. Negatividade histórica é o nome geral dessas características. Da ótica oswaldiana, o patriarcado é um tabu encravado no curso da História.
Por sua vez, o matriarcado, em Oswald, se identifica com a implantação de uma nova idade de ouro, cujos valores revolucionários promoveriam a substituição do direito de propriedade do homem civilizado pelo direito de posse do homem primitivo, a superação da usura e do negócio pelo ócio, o fim dos poderes centralizadores e autoritários pelo advento de uma vida comunitária aberta aos prazeres vitais, ditados por uma libido individual sem censura. O matriarcado desencravaria o tabu patriarcal da História, transformando-o em totem de uma feliz e nova idade.
Oswald chama de "revolução caraíba" tal transformação utópica, cujo agente emblemático seria o homem novo do novo mundo descoberto pelo colonizador, ainda infenso às degradações impostas pela civilização.
http://www.revista.agulha.nom.br/ag43chamie.htm
Em Oswald, o patriarcado é representado pela sociedade burguesa e capitalista, centrada no direito de propriedade do dominador, na usura, na hierarquia familiar, nos vícios do homem civilizado, na especulação lógica e metafísica, na repressão dos instintos e da liberdade sexual. Negatividade histórica é o nome geral dessas características. Da ótica oswaldiana, o patriarcado é um tabu encravado no curso da História.
Por sua vez, o matriarcado, em Oswald, se identifica com a implantação de uma nova idade de ouro, cujos valores revolucionários promoveriam a substituição do direito de propriedade do homem civilizado pelo direito de posse do homem primitivo, a superação da usura e do negócio pelo ócio, o fim dos poderes centralizadores e autoritários pelo advento de uma vida comunitária aberta aos prazeres vitais, ditados por uma libido individual sem censura. O matriarcado desencravaria o tabu patriarcal da História, transformando-o em totem de uma feliz e nova idade.
Oswald chama de "revolução caraíba" tal transformação utópica, cujo agente emblemático seria o homem novo do novo mundo descoberto pelo colonizador, ainda infenso às degradações impostas pela civilização.
http://www.revista.agulha.nom.br/ag43chamie.htm
O ovo - Tarsila do Amaral
Nesta tela temos símbolos muito importantes da Antropofagia. A cobra grande é um bicho que assusta e tem um poder de "deglutição". A partir daí, o ovo é uma gênese, o nascimento de algo novo e esta era a proposta da Antropofagia. Esta tela pertence ao importante acervo de Gilberto Chateaubriand e está sempre sendo exibida em grandes exposições.
Os trabalhos de Tarsila sempre estiveram presentes na Antropofagia, inspirando inclusive o início do movimento. Há uma obra dela feita antes da publicação do manifesto, A Negra, que é considerada antecessora da Antropofagia na pintura de Tarsila. Há quem diga que Tarsila aprendeu a pintar em brasileiro.
Seminário
A segunda questão da avaliação feita pelos alunos do componente no dia 22/06, pedia os principais aspectos discutidos no seminário do seu grupo. Então, acho que seria uma forma interessante de sintetizar o nosso seminário postar a nossa resposta.
O seminário apresentado pelo nosso grupo, Antropofagia, visou a abordagem dos principais temas a respeito da Antropofagia, como a Revolução Caraíba e o seu matriarcado de Pindorama, palavras e elementos vinculados ao tema, como a bricolage e a paródia, além de buscar trazer um apanhado histórico do contexto que deu início ao movimento e elementos históricos que influenciaram na sua "renegação", mostrando ainda o que inspirou o movimento, o quadro Abaporu, contando com objetivos do movimentos, expostos no Manifesto, principais meios de articulação, a Revista Antropofágica, mostrando as principais obras influenciadas no movimento, destacando-se na arte os quadros de Tarsila do Amaral, como "Antropofagia" e "O ovo" e na literatura as obras de Mário de Andrade, Macunaíma, e de Raul Bopp, Cobra Norato. Conseguindo, com todos os aspectos apresentados, mostrar a importância e relevância do Movimento Antropofágico, através da sua repercussão e influência em movimentos posteriores consagrados, como o Tropicalismo e a sua institucionalização na Bienal de 1998 que propôs a atualização e a internacionalização da antropofagia oswaldiana.
Diante do todo apresentado, o nosso objetivo foi demonstrar que a Antropofagia, muito além do canibalismo, é o ato de comer todo o conhecimento e a cultura, seja ela daqui ou de fora, para, a partir daí, fazer algo genuinamente nosso; por essa importância, a Antropofagia ganhou voz em muitas áreas na contemporaneidade, seja na música, na arte, na literatura e também no cinema.
Espero que apresente um apanhado geral do que foi o seminário.
Bom apetite.
O seminário apresentado pelo nosso grupo, Antropofagia, visou a abordagem dos principais temas a respeito da Antropofagia, como a Revolução Caraíba e o seu matriarcado de Pindorama, palavras e elementos vinculados ao tema, como a bricolage e a paródia, além de buscar trazer um apanhado histórico do contexto que deu início ao movimento e elementos históricos que influenciaram na sua "renegação", mostrando ainda o que inspirou o movimento, o quadro Abaporu, contando com objetivos do movimentos, expostos no Manifesto, principais meios de articulação, a Revista Antropofágica, mostrando as principais obras influenciadas no movimento, destacando-se na arte os quadros de Tarsila do Amaral, como "Antropofagia" e "O ovo" e na literatura as obras de Mário de Andrade, Macunaíma, e de Raul Bopp, Cobra Norato. Conseguindo, com todos os aspectos apresentados, mostrar a importância e relevância do Movimento Antropofágico, através da sua repercussão e influência em movimentos posteriores consagrados, como o Tropicalismo e a sua institucionalização na Bienal de 1998 que propôs a atualização e a internacionalização da antropofagia oswaldiana.
Diante do todo apresentado, o nosso objetivo foi demonstrar que a Antropofagia, muito além do canibalismo, é o ato de comer todo o conhecimento e a cultura, seja ela daqui ou de fora, para, a partir daí, fazer algo genuinamente nosso; por essa importância, a Antropofagia ganhou voz em muitas áreas na contemporaneidade, seja na música, na arte, na literatura e também no cinema.
Espero que apresente um apanhado geral do que foi o seminário.
Bom apetite.
terça-feira, 25 de maio de 2010
O grande dia antropofágico.
Hoje foi o dia da apresentação do Seminário. Muito nervosismo, mas uma vontade imensa de dar um bom recado aos colegas e a professora. Não vou falar agora porque a presentação merece um "senhor" relato. Só vou adiantar que foi emocionante. Por enquanto, vou postar apenas o poster que foi usado durante a apresentação. Mas voltaremos a falar muuuuito no assunto. Até lá.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
13 de maio: Testando os equipamentos.... será?
Hoje, conforme combinado, utilizaríamos o horário da aula para testar os equipamentos que usaríamos no dia da apresentação. Élvia e Rafael pediriam o equipamento ao funcionário previamente acertado pela professora Eliana. Fui com Rafael falar com o funcionário que justificou não fazer sentido levar o computador para a sala, (que ficou trancada todo o tempo), já que no dia da apresentação poderia ser qualquer aparelho e não aquele que levarámos para a sala. Sugeriu que testássemos na pequena sala do térreo, onde ficam guardados os equipamentos. Confesso que não acatei a sugestão ...
Eu e Rafael subimos para passar a lista de presença como combinado com a professora e ficamos "em pé"no corredor próximo a porta da sala (trancada) aguardando os colegas que para lá se dirigiam.
Finalizando, pergunto: Por que é tão desestimulante ser responsável e querer dar o melhor de si numa Universidade pública?
domingo, 9 de maio de 2010
Livros consultados
Estes são alguns dos livros consultados.. e é só o começo.
- A vanguarda antropofágica. BOAVENTURA, Maria Eugenia.
- História concisa da literatura brasileira. BOSI, Alfredo.
- Poesia do Modernismo. BRITO, Mário
- História do Modernismo brasileiro. BRITO, Mário
- Teatro e Antropofagia de GEORGE, David
Macunaíma
sábado, 8 de maio de 2010
"Vamos comer Caetano"
http://www.youtube.com/watch?v=3q5pYlpR4QM
"Deglutir tudo. Construir tudo de novo.
Destrói, pois toda a criação vem da destruição."
Revista de Antropofagia
"Deglutir tudo. Construir tudo de novo.
Destrói, pois toda a criação vem da destruição."
Revista de Antropofagia
sexta-feira, 7 de maio de 2010
manifesto antropofágico
Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
Tupi, or not tupi that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa.
O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.
Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.
Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil.
Uma consciência participante, uma rítmica religiosa.
Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar.
Queremos a Revolução Caraiba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.
A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls.
Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Ori Villegaignon print terre.Montaigne. O homem natural. Rousseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo, à Revolução Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos..
Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará.
Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós.
Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe : ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia.
O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores.
Só podemos atender ao mundo orecular.
Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem.
Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vitima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores.
Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.
O instinto Caraíba.
Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia.
Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo.
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses.
Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro.
Catiti Catiti
Imara Notiá
Notiá Imara
Ipeju*
A magia e a vida. Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais.
Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comi-o.
Só não há determinismo onde há mistério. Mas que temos nós com isso?
Contra as histórias do homem que começam no Cabo Finisterra. O mundo não datado. Não rubricado. Sem Napoleão. Sem César.
A fixação do progresso por meio de catálogos e aparelhos de televisão. Só a maquinaria. E os transfusores de sangue.
Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas.
Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: – É mentira muitas vezes repetida.
Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti.
Se Deus é a consciênda do Universo Incriado, Guaraci é a mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais.
Não tivemos especulação. Mas tínhamos adivinhação. Tínhamos Política que é a ciência da distribuição. E um sistema social-planetário.
As migrações. A fuga dos estados tediosos. Contra as escleroses urbanas. Contra os Conservatórios e o tédio especulativo.
De William James e Voronoff. A transfiguração do Tabu em totem. Antropofagia.
O pater famílias e a criação da Moral da Cegonha: Ignorância real das coisas+ fala de imaginação + sentimento de autoridade ante a prole curiosa.
É preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à idéia de Deus. Mas a caraíba não precisava. Porque tinha Guaraci.
O objetivo criado reage com os Anjos da Queda. Depois Moisés divaga. Que temos nós com isso?
Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.
Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D. Antônio de Mariz.
A alegria é a prova dos nove.
No matriarcado de Pindorama.
Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada.
Somos concretistas. As idéias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas. Suprimarnos as idéias e as outras paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas.
Contra Goethe, a mãe dos Gracos, e a Corte de D. João VI.
A alegria é a prova dos nove.
A luta entre o que se chamaria Incriado e a Criatura – ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor cotidiano e o modusvivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual. É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência. Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo – a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos.
Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema, – o patriarca João Ramalho fundador de São Paulo.
A nossa independência ainda não foi proclamada. Frape típica de D. João VI: – Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.
Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.
.
OSWALD DE ANDRADE
Em Piratininga
Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha
(Revista de Antropofagia, Ano 1, No. 1, maio de 1928.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
Tupi, or not tupi that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa.
O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.
Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.
Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil.
Uma consciência participante, uma rítmica religiosa.
Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar.
Queremos a Revolução Caraiba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.
A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls.
Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Ori Villegaignon print terre.Montaigne. O homem natural. Rousseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo, à Revolução Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos..
Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará.
Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós.
Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe : ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia.
O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores.
Só podemos atender ao mundo orecular.
Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem.
Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vitima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores.
Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.
O instinto Caraíba.
Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia.
Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo.
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses.
Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro.
Catiti Catiti
Imara Notiá
Notiá Imara
Ipeju*
A magia e a vida. Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais.
Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comi-o.
Só não há determinismo onde há mistério. Mas que temos nós com isso?
Contra as histórias do homem que começam no Cabo Finisterra. O mundo não datado. Não rubricado. Sem Napoleão. Sem César.
A fixação do progresso por meio de catálogos e aparelhos de televisão. Só a maquinaria. E os transfusores de sangue.
Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas.
Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: – É mentira muitas vezes repetida.
Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti.
Se Deus é a consciênda do Universo Incriado, Guaraci é a mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais.
Não tivemos especulação. Mas tínhamos adivinhação. Tínhamos Política que é a ciência da distribuição. E um sistema social-planetário.
As migrações. A fuga dos estados tediosos. Contra as escleroses urbanas. Contra os Conservatórios e o tédio especulativo.
De William James e Voronoff. A transfiguração do Tabu em totem. Antropofagia.
O pater famílias e a criação da Moral da Cegonha: Ignorância real das coisas+ fala de imaginação + sentimento de autoridade ante a prole curiosa.
É preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à idéia de Deus. Mas a caraíba não precisava. Porque tinha Guaraci.
O objetivo criado reage com os Anjos da Queda. Depois Moisés divaga. Que temos nós com isso?
Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.
Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D. Antônio de Mariz.
A alegria é a prova dos nove.
No matriarcado de Pindorama.
Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada.
Somos concretistas. As idéias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas. Suprimarnos as idéias e as outras paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas.
Contra Goethe, a mãe dos Gracos, e a Corte de D. João VI.
A alegria é a prova dos nove.
A luta entre o que se chamaria Incriado e a Criatura – ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor cotidiano e o modusvivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual. É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência. Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo – a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos.
Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema, – o patriarca João Ramalho fundador de São Paulo.
A nossa independência ainda não foi proclamada. Frape típica de D. João VI: – Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.
Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.
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OSWALD DE ANDRADE
Em Piratininga
Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha
(Revista de Antropofagia, Ano 1, No. 1, maio de 1928.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
mapeamento bibliográfico
Hoje fomos a Biblioteca Central da UFBA realizar o mapeamento bibliográfico para o nosso Seminário. Primeiro fizemos uma pesquisa sobre o tema na biblioteca on line. Nossa, cansei de ficar em pé, só teclando. Depois a pior parte: localizar os livros na estante. Meu Deeeus, que loucura! Às vezes nem os funcionários conseguem encontrar...
Finalmente sentados com uma pilha de livros sobre a mesa pudemos iniciar a pesquisa e compartilhar com outra equipe, a de Élvia que trabalhará com o tema Semana de Arte Moderna.
Achei interessante um livro sobre a Antropofagia no Teatro, Carol se enpolgou com a Vanguarda Antropofágica e Robson resolveu folhear tudo.
Ao final resolvemos trazer dois deles para casa (depois eu falo o nome dos autores) para um estudo mais aprofundado.
06 de maio de 2010
Finalmente sentados com uma pilha de livros sobre a mesa pudemos iniciar a pesquisa e compartilhar com outra equipe, a de Élvia que trabalhará com o tema Semana de Arte Moderna.
Achei interessante um livro sobre a Antropofagia no Teatro, Carol se enpolgou com a Vanguarda Antropofágica e Robson resolveu folhear tudo.
Ao final resolvemos trazer dois deles para casa (depois eu falo o nome dos autores) para um estudo mais aprofundado.
06 de maio de 2010
terça-feira, 4 de maio de 2010
Antropofagia x canibalismo
"Antropofagia é o ato de consumir uma parte, várias partes ou a totalidade de um ser humano."
Mas, será que isso não seria apenas canibalismo? Qual a diferença entre canibalismo e Antropofagia? AGUARDEM...
Mas, será que isso não seria apenas canibalismo? Qual a diferença entre canibalismo e Antropofagia? AGUARDEM...
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